19 de junho de 2009

At the top of my lungs

Há algumas coisas na vida, coisas subjetivas, que podem ser compreendidas se observarmos coisas objetivas sobre nós mesmos ou sobre a vida alheia.
Eu estava encontrando muita dificuldade em superar um momento da minha vida, ou ao menos entendê-lo... Mas essa noite eu tive a oportunidade de tornar essa situação transparente apenas observando uma situação aparentemente diferente da minha.
Tinha uma garotinha na rua. Ela devia ter uns 10 anos de idade e estava a uns 10 metros de distãncia de sua mãe, e estava chamando por ela. O que me fez olhar.
Primeiro, ela não gritou muito alto, mas mesmo assim sua mãe podia ouvi-la. A mãe não respondeu. A garotinha gritou mais uma vez, mais alto... E sua mãe disse "Eu não 'tô nem te ouvindo!"
Nós sabemos que a mãe estava ouvindo a filha, mas não se importou porque a menina não saiu do seu campo de visão. Mas a menina não entendeu, e gritou mais alto, berrou, e a mãe, mais uma vez, não respondeu.
Então eu percebi que quando você chama alguém, se a pessoa pode te ver, talvez não se importe com seu chamado, pois quando ela quiser estar próxima de você, saberá onde encontrá-lo. Mas se você está distante, e grita, e a pessoa procura mas não sabe onde você está, isso a preocupará.
Claro que a mãe da garotinha estava brincando com ela, mas a garota não entendia isso. Mas e se a garota entendesse e resolvesse brincar também? E se ela se escondesse e gritasse novamente? O que sua mãe faria? Ela ficaria transtornada!
E me occoreu que quando eu chamo alguém que pode me ver, e essa pessoa não responde, é porque sabe que eu estou logo ali. Mas eu não tenho dez anos de idade, eu também sei me esconder. Também sei brincar.
E se eu decidir me esconder e, em vez de gritar, silenciar?
E se meu silêncio for mais agradável que meus gritos?
Eu posso decidir me esconder bem longe, onde não serei capaz de ouvir os SEUS gritos, porque certamente gritará quando perceber que eu fui embora. E nesse momento você vai se arrepender de não ter me atendido e vai desejar ardentemente por meus gritos novamente e eles não estarão lá. Nem minha voz, nem meu riso. Só o silêncio, prova irrefutável da minha partida.

written on may, 20th, 2009.


Só pra constar. Depois disso eu parti. E não gritei. E ela se desesperou, como era de se esperar. E gritou, eu ouvi dizer que gritou... Mas eu já estava longe demais pra escutar.

Um comentário:

Anônimo disse...

E não adianta nem me procurar em outros timbres, outros risos. Eu estava aqui o tempo todo só você não viu...