Palavras e silêncio

Por acaso foi tudo adiado. O futuro, o presente e o passado.
Hoje não vou me preocupar. Não vou me desesperar.
O desespero da solidão teve fim. Agora é hora de olhar pra dentro, de me apaixonar por mim. Devo descobrir, ao meu lado, as delícias de estar comigo. E se eu sofrer por essa paixão será segredo, não hei de proclamar aos sete ventos.
Já que tentei me apaixonar por ti, mas não quiseste. Jogaste fora meu ímpeto de ser tua e fazer-te o homem mais feliz.
Em alguns dias senti vontade; em outros, senti saudade... E em outros, medo.
Medo do que já foi, medo do que é, medo do que está por vir.
Hoje não sinto nada. Apenas me conformei que nem tudo depende de mim. Não posso abraçar o mundo com duas mãos. Nem com três, nem com mais.
E mesmo que sejas tão menor que o mundo, eu descobri que nem a ti posso abraçar com meus braços. Não porque meus braços são pequenos... Mas porque tu és imenso. Maior que minhas possibilidades... Do tamanho de um sonho impossível.
Não adianta ter vontade de te fazer feliz se não queres o que eu posso te dar.
Não adianta ter saudade de nós se nunca fomos uma única pessoa, ainda que uma única pessoa do plural.
E o medo não é só para covardes. Os bravos sentem medo, mas enfrentam-no. E a vontade que eu tinha era de enfrentá-lo. Enfrentar o medo, enfrentar o mundo... Mas ficas mudo na hora de falar do amanhã. E não descobri ainda como lutar contra teu silêncio.
Quisera ouvir de ti as coisas que li!
Quisera poder atravessar teu silêncio, e ouvir dos teus olhos tudo o que não tens coragem de dizer.
Ainda que dissesses não, deverias dizer algo. Qualquer coisa.
Queria ouvir algo de ti... Ainda que dissesses que não queres o que tenho a oferecer... ainda que não queira nada... Ainda que dissesses apenas Adeus.
Mas me encheria de prazer se ouvisse que queres... Que queres ficar, que queres a mim... Se o dissesses, eu saberia te fazer feliz.
Digas que queres algo de mim e farei. Por você e por mim... Pra que enfim sejamos nós.


Lígia
15 de junho
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